terça-feira, 30 de abril de 2013

Um dia, Tim escreveu isto...


Eu já sabia... O Baltazar investigou! Ele já me tinha dito, mas eu como sempre não quis acreditar.
Ele via quando escrevias nas folhas sem parar e de imediato foi investigando. 
Ele foi rápido e descobriu depressa. O normal de acordo com a perspicácia que tem, logo descobriu qual era o livro onde estavas a escrever! Hoje mostrou-me as provas que faltavam... 
O Baltazar investigou muito mais, e sabe, que esse livro tem muito poucas folhas limpas para escreveres a tua história, a qual deveria ser tao linda como longa, assim como tu mereces...  
Ainda me informou que abdicas-te de um outro livro, onde tinhas muitas mais páginas para escrever, comparando, com este onde agora escreves... 
Só espero que não cometas nenhuma loucura e depois fiques sem tinta na caneta, porque eu gosto de mais de ti, para te ver a deixar a escrita, ou te mudares de um estilo cativante para um estilo banal!
Aquele caderno onde nunca escreves-te vai ser hoje guardado... pelo Baltazar! "finalmente eu deixei..."
"Um dia" que queiras escrever nele, a sério, e não fazer dele somente um livro de rascunhos, podemos tentar encontra-lo, com a esperança do Joy não o ter encontrado e destruido!
- A partir de hoje vou regressar ao passado e voltar a sair com o Joy e o Baltazar, eles é que sabem!

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Operação monte da forca...A máfia e os policias...


Quarta feira, dia de festa, havia uma festa da espuma numa das discotecas lá do sitio.
O Joy, o Tim e o Baltazar juntaram a equipa, falaram com mais dois ou três amigos para uma noitada das boas…
Houve jantar em casa do Baltazar, a equipa já se apresentou de calções, uns sacos de plásticos para meter o dinheiro e os documentos e umas toalhas para não sujar o carro. Jantaram bem, uns bifes de vitela que o Tim tinha trazido lá da sua aldeia, mais umas bebidas que os restantes levaram… E assim começava mais uma noite académica.
O jantar terminou às 23h, não eram horas decentes para irem para a discoteca, ainda era muito cedo!
Começaram a questionar-se: como iriam distrair-se até às 2h da manhã? Pois a essa hora a discoteca já estaria ao rubro, o ambiente seria bem melhor. “Fazer sala”, não fazia parte das doutrinas daquele grupo de amigos.
Então o Joy, como era costume e habitual, teve uma ideia muito interessante:
-Podemos ir para o “monte da forca”, apreciar os casais que por lá andam a dar as suas “trancadas”?
Baltazar de imediato responde: -Excelente ideia!
Os restantes, como de tantas outras vezes, nem foram tidos nem achados, iam e calavam-se!
O Tim tinha um carro novo, obviamente que queria levar o seu carro, pois a cada quilometro que fazia jubilava de alegria e emoção, isso fazia-o sentir-se importante no grupo. Eram sete pessoas, Baltazar também levou o seu carrinho comercial. Noutros tempos levava ele os sete, iam três à frente e quatro na mala, mas desta vez não seria necessário. Então lá foram em dois carros na direcção do monte da forca, local onde se situava o Estádio Municipal, era lá que os amantes faziam coisas interessantes durante a noite e ao Domingo à tarde jogava o Futebol Clube de lá do sitio.
Chegados ao monte, uma grande decepção os esperava, nem uma alma penada por lá estava. Eles percorreram o parque de estacionamento de uma ponta à outra, eles subiram com os Clios a lugares onde só os Jipes podiam ir, e nada! Nem uma alma penada, nem um ruído, nem rastos de ter estado por ali alguém!
A decepção estava mais que visível na cara dos sete amigos, mas o Joy não se deu por vencido, e aquele momento tinha de ser aproveitado. Dirigiu-se ao carro de Baltazar, retirou um pano enorme de napa que a mãe do Baltazar tinha lá metido para proteger o carro no tempo das geadas, de seguida foi ao porta luvas  e retirou uma pistola de fulminantes que o Baltazar tinha comprado numa feira popular onde tinham ido na semana anterior. O Joy conhecia aquele carro como se fosse dele. 
-Vamos fazer um filme, simulamos um assassinato, hoje treinamos, noutro dia voltamos cá e filmamos? 
Foi uma gargalhada geral, mas ao mesmo tempo foram convencidos pela espontaneidade dele.
-Vamos a isso. Disseram todos quase em coro…
O Joy teria de ser o vilão, ou seja, o gajo que tinham de matar. O Baltazar, o pistoleiro, pois era o único que até rebentava bombas de carnaval na mão.
A historia era curta e fácil, somente fazer algo parecido com os “ajustes de contas” nos filmes dos carteis da máfia.
- Chegam dois carros em alta velocidade, fazem uns piões para criar suspense, dão-se pontapés em todo o corpo e mata-se o gajo que traiu o grupo.  A cena teria de assegurar que aparecia “o Padrinho” para lhe dar um tiro, mesmo no centro da testa! Por fim enrolava-se o corpo na napa, que nunca cobriu o carro do Baltazar, colocava-se na mala e sumiam outra vez em alta velocidade, sem deixar qualquer vestígio!
Esta simulação não correu nada bem, todos se riam e achavam piada ao que estava a acontecer.
- Correu tudo muito bem, mas quando trouxermos as câmaras ninguém se pode rir! Depois enviamos para a Sic Radical e ainda vamos ter mais piada que os “Gatos Fedorentos”. Comunicou Baltazar à equipa.
Estavam todos reunidos no inicio da subida para o monte da forca, quando olharam para o lado e viram uma viatura muito silenciosa, a subir na direcção do local ideal, para ver as estrelas numa noite de luar. Dentro ia um individuo e uma loira, que parecia ser bem jeitosa, com lábios pintados de encarnado carregado, capazes de deixar bem caiado o pescoço de qualquer homem, que se aproximasse da sua boca enorme.
Houve ali um pensamento conjunto, os sete cérebros fundiram-se num só, onde a primeira ideia que lhes surgiu foi de imediato disparada pelo Tim:
- Vamos assusta-los, fazemos o filme perto dos gajos, que eles vão ficar cheios de medo!
O Tim dizer uma coisa destas! Não é normal, mas dessa vez foi mesmo ele que disse isto…
Baltazar impôs logo:
- Mas se vocês se rirem não mato o Joy!
Então pé no acelerador e lá foram os sete fazer o filme. Correu tudo como planeado, nem um sorriso, parecia mesmo real. 
Tão verdadeiro, que quando colocam o morto dentro da mala do clio comercial e arrancam a toda a velocidade, fazendo várias perícias como se fosse uma participação num rali, a viatura onde estava o casal a ver as estrelas que vagabundeavam no céu naquela noite, também saiu a toda a velocidade atrás deles! Naquele momento, para Tim e todos os que seguiam no carro com ele, o filme parece ter terminado. O Baltazar achou piada, aquela perseguição que estava a ser protagonizada pela viatura desconhecida, aumentava a adrenalina de Baltazar. Ao Joy era indiferente, pois ele era o morto, e depois de varias cambalhotas dentro da mala, de certo que o único desejo era poder sair. Eles passaram rotundas como se fossem rectas, iam acelerando cada vez mais, mas a viatura, que primeiro não passava de um casal assustado, agora era uma viatura capaz de fazer lembrar as perseguições do justiceiro. A perseguição durou alguns Quilómetros, a um dado momento Baltazar entrou numa aldeia,  seguiu por estradas mais duvidosas, segundo o pensamento dele iriam assustar o carro perseguidor. Assim aconteceu, finalmente livraram-se deste perseguidor de clios…
Depois de verificarem que já não havia perigo algum, nenhum rasto do justiceiro, num ponto da estrada onde não havia asfalto, depararam-se com um pequeno ribeiro a correr lado a lado com essa estrada e onde o carro poderia passar, mas seria com muitas dificuldades. Decidiram parar e elaborar a próxima estratégia, ao mesmo tempo recuperar o fôlego perdido!
-Meu Deus, em que merda nos metemos? Quem era o gajo do carro? Disse Tim completamente transtornado, com as mãos, pernas, dedos e dentes a tremer.
Baltazar, tratou logo de acalmar o Tim:
-Tem calma, não era um susto que queríamos pregar ao casal, assim aconteceu. Não te preocupes, pois não fizemos nada de mal…Vamos tirar o Joy dali de dentro da mala,  ele vai passar para o teu carro e assim não estamos a cometer nenhuma infracção. Isso sim é que é importante. Diz Baltazar com a astúcia de sempre, como se estivesse com a situação completamente controlada.
Ora então assim fizeram, Joy sai completamente atordoado da mala do carro, mas com uma cara de satisfação e sorridente, como se tivesse acabado de saltar de para quedas.
Tim deu meia volta com sua viatura e voltou a entrar na estrada asfaltada, enquanto Baltazar decidiu arriscar pela estrada desconhecida, o seu sentido de orientação de “rapaz do monte” não o havia de deixar mal, e de certeza,  mais à frente entraria na estrada principal.
Assim foi, depois de cem metros percorridos  em estrada de terra batida, logo viram as luzes da estrada principal. Estavam mesmo a entrar no cruzamento quando vêm dois carros da policia a passar em alta velocidade com as luzes e as sirenes ligadas.  Comentou de imediato com o colega, o Baltazar, com um sorriso maléfico na face:
-Será que vão para o monte da forca procurar provas do crime?! Hihihihi…
Seguiram então tranquilos para a discoteca. Estavam já na porta da entrada quando recebem um telefonema do Tim.
O Tim tinha feito o percurso inverso ao da perseguição, foram ficando cada vez mais descontraídos à medida que iam avançando. Na estrada reinava somente a calma e a tranquilidade de uma bela noite estrelada. Os olhos estavam atentos e amedrontados, mas não se viam vestígios da viatura assustadora.
Estavam completamente tranquilos, pois já avistavam a cidade e iam entrar na rotunda. Só havia duas direcções a seguir, a placa a indicar cidade e uma outra com a indicação monte da forca.
Foi então que, quando circulavam a pouco mais de vinte km/h e prescreviam a circunferência, que a rotunda assim  obrigava, de repente,  vêm surgir faróis por todo o lado apontados na direcção do carro em que eles circulavam. O Tim ficou  tão atrapalhado,  deixou de imediato o motor do carro parar, sem saber onde meteu o pé, se no acelerador ou no travão ou na embraiagem.
Perante aqueles cinco jovens universitários estava pintado um grande cenário, nem em pesadelos poderiam imaginar aquilo; eram seis viaturas da policia, quatro delas atravessadas de frente dos quatro lados do carro, mais duas que os observavam ao longe com focos . Os agentes tinham uma espécie de arma na mão que transpareciam ser capazes de acertar num pneu do carro a mais de 2 quilómetros de distancia. O medo subiu à cabeça de todos os ocupantes da viatura, já se imaginavam carbonizados pelas balas enfurecidas vindas daqueles policias gordos e barrigudos que costumavam fazer as rondas na cidade. Mas as luzes eram tão fortes, nem lhes permitiam avistar a mais de dez metros, não sabiam o que havia por detrás daqueles focos de uma potencia superior aos de um estádio de futebol.
Depois de quase um minuto de suspense e de pânico geral, ouvem uma voz vinda de um megafone, que dizia tal como nos filmes americanos.:
-Saiam do carro, sem movimentos bruscos, e coloquem as mãos em cima do tejadilho.
-Lembrem-se, nada de movimentos bruscos! Reafirmou de forma concentrada e aterrorizadora a voz entoada do megafone.
Ao verificarem que aqueles jovens estavam de calções, t-shirt e chinelos, os policias começaram a aproximarem-se deles. O Tim estava cada vez mais nervoso, amedrontado e aterrorizado, dos olhos dele escorriam lágrimas. O Joy estava calmo, por momentos até parecia estar a gostar de tudo aquilo que lhes estava a acontecer.
A policia aproximou-se, sem permitir que qualquer dos jovens tirasse as mãos do tejadilho, começou a revista-los um a um. Unicamente encontravam sacos de plástico com moedas e notas, dentro do carro também não havia nada além de umas toalhas e um cheiro a novo, normal um carro comprado à poucos dias.
Depois de uma rusga bem exaustiva, um dos policias pergunta:
- O condutor quem é?
O Tim estava afónico, não conseguia dizer nada, até que Joy lhe diz:
- Tim é para ti que ele está a falar…
Então a gaguejar muito, responde:
-  So…so…sou eu, Sr Policia!
- Documentos? Pergunta o policia.
- Estão na carteira, responde o Tim, mas não sei onde está! Responde, completamente bloqueado, o pobre e inocente condutor.
- Onde, carago? E o outro carro? Pergunta o agente.
Tim ainda tentou responder outra vez, mas o medo e o bloqueio mental eram de tal ordem que  não conseguia parar de chorar.
Como não estava a ver o fim daquele enredo, o Joy, virando-se lentamente, e fazendo uma cara de miúdo sério arrependido disse:
-Sabe senhor agente, nós não fizemos nada de mal…
Continuando a usar a palavra sabe, como se estivesse a tentar colocar a razão do seu lado.
-Sabe, nós íamos para a festa da espuma da discoteca e decidimos vir até aqui fazer uma brincadeirinha. Sabe que aqui é um “quecodrome”, então decidimos vir aqui fazer um filme e assustar o pessoal que costuma vir para cá fazer essas indecências!
De imediato, o agente estica a mão e dá um estalo com muita força na cara do Joy e diz espumando-se pela boca, ao mesmo tempo que também lançava perdigotos capazes de atravessar até um guarda chuva:
- Vocês sabem a merda que estiveram a fazer, vocês sabem que estiveram na eminência de levar um tiro do nosso colega! SABEM?
Naquele momento, todos tranquilizaram, pois aparentemente o policia já não os estava a ver como assassinos, tão pouco como mafiosos.
E o policia continuava a debitar com os decibéis bem acima do normal, bem superior ao do megafone do colega:
- Estávamos nós bem sossegados na esquadra a ver um filme e tivemos de vir para aqui numa operação relâmpago, porque estes meninos resolveram brincar! Vocês mereciam todos umas estaladas e dormir uma noite na esquadra…
Naquele momento aparece o senhor que estava dentro do tal carro que os tinha perseguido e diz:
-Eram dois carros, o outro carro tem de vir cá  para confirmar a historia… Afinal esse senhor também era agente de segurança pública e ocasionalmente usava aquele lugar para mostrar as estrelas a alguém.
O Tim a tremer liga a Baltazar:
- Por favor, por favor. Tens de vir aqui confirmar o que se passou! Vão-nos bater e prender…
Isto poderia assustar o Baltazar, mas ele tinha aquele paleio de advogado e sabia sempre as frases certas a aplicar nos momentos oportunos. Além de também querer fazer parte da historia. Meteu-se logo no carro com o intuito de salvar os amigos. Foi sozinho, o colega  recusou-se a ir, visto já se ter safado daquela aventura!
Entretanto enquanto esperavam pelo Baltazar, o policia que deu um estalo no Joy e o policia que gosta de mostrar as estrelas às meninas nas noites de lua cheia, afastaram-se, e foram conversar sozinhos. Todos os outros policias mantiveram as posições e aqueles olhares de cães enraivecidos, prontinhos para receber ordens. Depois de conferenciarem, o Sr agente vai na direcção deles e diz:
- Têm 1 minuto para sumir daqui! antes de me arrepender… e só espero que nunca mais se cruzem no meu caminho, pois serão fiscalizados até ao limite das multas…
Que palavras doces se tornaram aqueles berros do Superintendente Lopes. Logo se pisgaram e nem tempo tiveram para agradecer, nem tão pouco avisar o Baltazar que já não necessitava de ir lá salva-los.
Baltazar verificou que já vinham muitos carros da policia em sentido contrario, mas a curiosidade era tanta, ele queria saber o que realmente se estava a passar. Quando chegou à rotunda deparou-se com um cenário estranho; viu duas viaturas da policia, onde uma estava a dar energia à outra viatura, um dos carros não pegava.
O Baltazar estaciona o seu clio à frente das viaturas da policia e dirige-se aos senhores agentes, que pareciam meios atrapalhados:
-Sr. Agente, um colega meu ligou-me e pediu-me para vir aqui, vocês necessitavam de uma confirmação do condutor do Clio comercial branco.
Naquele momento, se o agente tivesse um bastão na mão, dava com ele nas costas do Baltazar, mas como estava desarmado, resumiu em poucos segundos e com poucas palavras de uma forma telegráfica a situação:
-Ponha-se a andar! jáááááá….. Vocês vêm para aqui fazer brincadeiras perigosas! MAL ESTÁ O NOSSO PAÍS COM ESTUDANTES COMO VOCÊS! AINDA NOS AVARIARAM O CARRO! E DEPOIS NEM LHES PODEMOS FAZER NADA! PORQUE O AGENTE NÃO TINHA COMO JUSTIFICAR À SUA ESPOSA O QUE ESTAVA A FAZER COM UMA LOIRA DE LABIOS PINTADOS DE VERMELHO NO MONTE DA FORCA ÀS 23H!
 
PS: Esta historia é baseada em factos reais, bem reais, assumo que era uma das personagens!

terça-feira, 26 de março de 2013

"Olá", "Oi" e "Comé"

Ao iniciar uma conversa online, estes três personagens costumam escrever:
- Tim, "Olá"
- Baltazar, "Oi"
- Joy, "Comé?"
Cada uma destas formas para abordar alguém, que está do lado de lá, têm um significado especial e indicadora da intenção de cada um deles.

Ps: No tempo do mIRC, era assim...

segunda-feira, 18 de março de 2013

O terror chegou à Telescola!


Em pleno inicio dos anos noventa o Tim, o Baltazar e o Joy estudaram o quinto e sexto ano num sistema de ensino, não muito conhecido pela maior parte das pessoas, estudaram na chamada “telescola”. O nome é telescola, mas não quer dizer que as aulas fossem somente via televisão. O principio de funcionamento era ligeiramente diferente, somente os resumos das aulas eram através de uma cassete de vídeo transmitida na televisão da escola, depois a professora prosseguia com as aulas através de exercícios e exemplificações, idêntico ao sistema normal de ensino.
Estes três miúdos tinham acabado de concluir a quarta classe na aldeia onde moravam, o quinto e sexto ano era numa aldeia maior que a deles, onde se concentravam os alunos vindos de várias outras aldeias.
Isto era uma experiência nova na vida deles, as aulas eram durante a parte de tarde do dia, ao contrario da primária, que era durante a manhã. Eles iam numa carrinha de doze lugares, a qual apanhava os alunos, aldeia em aldeia, até chegar ao destino. O transporte de todos os alunos era feito em três viagens, onde na primeira iam os miúdos da aldeia do Tim, do Joy e do Baltazar. A aldeia deles era a mais afastada, mas isso não os impedia de serem os primeiros a chegar. O motorista da carrinha era um senhor muito famoso nessa zona geográfica de Portugal, chamava-se “Zé Trovoadas”, o nome assustava um pouco os miúdos, mas conhecendo melhor o Trovoadas, ele era muito brincalhão. A experiência e a paciência para aturar a canalhada já tinha décadas nos transportes.
A entrada destes três miúdos para o quinto ano de escolaridade coincidiu com uma fase de transição e revisões na organização das infra-estruturas escolares. Foi no inicio desse ano lectivo que deixou de haver telescola na aldeia deles.
Foi uma adaptação bem difícil! Não foi muito difícil para os miúdos, mas foi extremamente difícil para quem os recebeu. Os habitantes dessa aldeia temiam a vinda dos alunos lá da terra dos pistoleiros e dos espadachins, temiam pelos estragos que essa gente incompreendida poderia causar. A verdade é que foram mesmo muitos os estragos que estes adolescentes causaram!
Rápido tiraram do sério, o Zé Trovoadas, que depois de uma semana a transporta-los, começou logo a apelidar o Joy de “Trinta Diabos”.
Baltazar aproveitou a fama de pistoleiros para subir ao poder na escola e tornar-se o chefe da miudagem. Começou logo, no primeiro dia de aulas, a elaborar uma estratégia. Apesar de haver miúdos mais fortes do que ele, isso não o impediu de preparar uma estratégia triunfante, posta em pratica após um mês de aulas.
A chave para o sucesso da conquista passou pelo amigo dele, o Bruno, o rapaz tinha uma força impressionante para a idade. O Baltazar conhecia-o muito bem, ele tinha de o provocar, motivar e planear bem o duelo contra o Pedro Jorge, o miúdo mais temido na escola. Se o Bruno ganhasse a briga ao Pedro Jorge, passaria a ser olhado com muito medo por parte dos miúdos da escola. Ele usaria essa vitoria e a amizade com o Bruno para impor as suas regras!
Assim aconteceu!
Depois da tareia que o Pedro Jorge levou, ainda houve um grupo da terrinha dele que o tentou ajudar, mas aí Baltazar, Joy e Tim, com a lição bem estudada amedrontaram de imediato essas crianças:
- Experimentem interferir, amanhã estamos aqui todos com as pistolas dos nossos pais para vos mandar direitinhos para o cemitério! Com o pessoal da nossa terra ninguém se mete! Isto foi só um aviso. Disse o Baltazar com um olhar de cão raivoso.
A partir daí o Baltazar era o miúdo que ditava as regras do jogo, ele mandava no recreio, decidia as zonas onde as raparigas podiam brincar aos elásticos, onde os rapazes jogavam futebol, as regras de uma partida de futebol, e ainda era ele quem definia as equipas.
As aventuras mais marcantes naqueles dois anos tiveram sempre como protagonistas: o Joy, o Tim, o Baltazar e o Bruno.
O Joy,  entre outros acontecimentos foi o responsável pela destruição dos anexos da escola, ele conseguiu roubar uma caixa de bombas, para quem não conhece e ficar a saber a potência dessas bombas, quatro juntas fazem uma bela de dinamite! Ele roubou as bombas à empresa que estava a construir da rede de abastecimento de água e esgotos naquela aldeia. Com essas bombas destruiu parte dos anexos da escola, o reservatório de água e ainda um moinho de pedra existente nas margens do rio. Durante uns meses o Joy foi o verdadeiro talibã.
Baltazar além de dominar os colegas da escola também era o melhor aluno, as professoras chamavam-lhe a “mente brilhante”, chegavam mesmo a dizer que era o miúdo mais inteligente que já alguma vez tinha frequentado aquela escola. Mas isso não quer dizer que as professoras não soubessem do seu mau comportamento, da sua astúcia e da sua arte da guerra. Tenho a certeza que quando o definiam como “inteligente” já a estavam a ter em consideração todos esses aspectos. Realmente ele era um poço de informação, ele sabia de politica, de futebol, de carros, de geografia e até de gajas ele já sabia umas coisas!
O Tim, o miúdo lamechas foi o protagonista do momento mais romântico e hilariante ocorrido nessa escola. Com apenas dez anos casou-se no ultimo dia de aulas do ano lectivo, ele frequentava o quinto ano e a miúda andava no sexto ano. Ela era, a mais bonita daquela escola, cabelo loiro e olhos verdes, do mesmo nome da sua primeira paixão. A única diferença era a cor dos olhos, de azuis passaram a verdes nesta sua nova princesa. Mas esta historia do Tim merece ser relatada de uma forma mais pormenorizada noutro post deste blog.
Estes três jovens com a ajuda do Bruno foram os protagonistas de um verdadeiro filme de terror, onde as professoras eram as personagens mais assustadas.

Isto foi tão grave que a “Dona Lucília", a professora mais velha daquela escola, temida pela sua rigidez com os alunos e a pouca tolerância às distracções dentro da sala de aulas, pediu a reforma antecipada, três meses depois do inicio do ano lectivo. Não aguentava mais aqueles traquinas vindos lá do “meio do monte”.


terça-feira, 5 de março de 2013

Tim…Primeiro Amor! Primeiro Beijo!


Finais da década 80, o Tim andava na escola primária, tinha chegado naquele verão quente à sua terra natal uma menina linda. Semelhante a um malmequer, de olhos azuis, cabelo loiro, sorriso de princesa, lábios rosados e um intuito de sabor a mel. Palavras doces saiam como musica da boca da menina. Os miúdos da aldeia paralisavam ao vê-la passar, conversar ou sorrir.
O Tim não parava de pensar nela desde o primeiro dia em que a viu a musa, sonhava com ela, e tremia como se estivesse febril quando o seu olhar se cruzava com o dela. Espreitava pela janela do seu quarto nos momentos em que sabia que ela ia passar por perto da sua casa.
O Tim estava a ficar doente de seu pobre e frágil coração, o que era aquilo que lhe estava a acontecer?
Estas emoções estavam a deixar completamente descontrolada a mente do pequeno Tim, perdeu a vontade de brincar com os amigos, a vontade de sair de casa, só queria ficar deitado na cama a pensar na princesa que andava sempre de sorriso aberto a deambular pelas ruas em calçada da aldeia.
O novo ano lectivo tinha começado e o Tim frequentava a mesma turma da princesa, a personagem principal de todos os seus sonhos, estivesse a dormir ou estivesse acordado, o filme era sempre o mesmo.
A partilhar com o Tim aquelas mesas duplas em madeira de castanho bem claro, com uma inclinação de 35ºC, onde constavam inúmeras mensagens, escritas por outros alunos que se tinham sentado lá em anos anteriores, fora destinado pela professora, o rapaz que todos os velhotes diziam ser muito simpático, O Danny.
Ele era o primo da menina encantadora, também havia regressado do estrangeiro naquele verão. Dizia-se que era em definitivo! Os pais já tinham ganho dinheiro suficiente para viverem felizes e para sempre na Terra Natal! Com o passar do tempo, Danny e Tim tornaram-se nos melhores amigos…
Dias e meses  foram passando, as coisas não mudavam, eram sonhos e mais sonhos, bloqueios de pensamentos quando havia um sinal de aproximação da princesa. Então se lhe conseguia ver um sorriso, sentia-se como um chocolate a derreter ao sol.
A cada semana aparecia um miúdo diferente a dizer que namorava com a menina dos olhos azuis, cabelo loiro, sorriso de princesa, lábios rosados e um intuito de sabor a mel.
O Tim todo preocupado lá ia perguntando ao Danny:
- Então a tua prima já namora?
A resposta era sempre a mesma:
- Achas mesmo? Ela quer é ouvir a musica que o irmão toca, andar de bicicleta, e brincar com as bonecas…  
O Irmão era um pouco mais velho que ela, cantor profissional, a pessoa mais admirada lá da aldeia! Estes episódios aconteciam sistematicamente… Eram facas a espetarem-se no coração de Tim!
Chegou o São Martinho, época de se fazer o tradicional magusto na escola.
Comeram-se as castanhas e fez-se uma enorme festa, na escola, o recreio tinha um socalco, e era lá que se simulavam os concertos com pianistas, bateristas, cantores, guitarristas, era uma verdadeira animação. As bandas simulavam tocar ao som de uma aparelhagem que a Princesa tinha levado naquele dia, para dar musica à festa da escola.
A festa estava no fim, os professores e a maior parte dos alunos já tinham regressado a casa, mas nesse dia, idêntico ao que era habitual na maior parte dos dias de escola, o Tim e o Danny costumavam ir para uma zona secreta comer bolachas de baunilha e conversar um bocado. Nesse dia o Tim ficou para trás, ofereceu-se para levar a aparelhagem que Danny tinha ficado responsável por levar à prima no final da festa! Aproveitou o momento para fazer uma canção para a sua princesa e debita-la para uma das cassetes que estavam nessa aparelhagem. Ora assim aconteceu, carregou no REC, a música era bem fácil, pois já existia uma música conhecida com o nome da sua querida, foi canta-la com todo o carinho e tentar desafinar o mínimo possível, por fim acrescentar “te amo”, “te amo”… e pronto, assim se fez uma nova musica…
Devolveu a aparelhagem a Danny sem lhe dizer uma única palavra sobre o que tinha feito. A cassete ia dentro, a sua esperança era que quando ela carregasse no Play, a musica saísse  e lhe fosse directa ao coração, como o som que sai das flautas sopradas pelos artistas de rua na Índia e hipnotiza em segundos uma serpente!
Não aconteceu isso, apesar de ter estimado a dedicatória, não gostou nada de ouvir a musica num encontro de família, onde estava presente a mãe, a tia, o primo, o irmão e ainda mais uns amigos de família! Ora, esta mensagem propagou-se como uma tempestade de verão por toda a aldeia, e claro está, a miudagem não perdoa, e na semana seguinte todos cantavam a musica na escola, até a professora cantou um bocadinho. O Tim não sabia onde se enfiar, a vergonha era tanta, e o medo de rejeição ainda era maior, e o Danny, que pensaria o Danny daquela infantilidade do Tim?
Custou-lhe de inicio enfrentar os miúdos, o seu grande amigo Danny, mas custou-lhe ainda mais enfrentar a princesa amada. No meio disto houve uma coisa positiva, agora nenhum outro rapaz dizia namorar com ela, ela decididamente era nas bocas da rua a “namorada de Tim”, só mesmo nas bocas da rua!
Entretanto, com o tempo, aquele que ninguém consegue controlar, e naturalmente ajuda a cicatrizar feridas, esquecer sentimentos, crescer as arvores e envelhecer as pessoas,  também a nuvem de vergonha se afastou de Tim. Voltou a conviver naturalmente com o Danny, o seu melhor amigo, ganhou novos sorrisos da loirinha encantadora, e conseguiu manter esse seu amor por ela bem camuflado, conseguia agora agir com naturalidade ao pé dela…   
Perto do final desse mesmo ano lectivo, havia o famoso passeio escolar de verão, onde se visitava “sempre” o Castelo de Guimarães, o Jardim Zoológico e como não podia deixar de ser, para os miúdos do interior, o mais importante, o “mar e a praia”, isso sim provocava-lhes um sorriso e uma alegria estonteante!
No momento do regresso a casa, depois desse dia feliz e desgastante, quando já vinham no autocarro uns miúdos a dormir, outros a esforçarem-se para manter pelo menos um dos olhos aberto, o Tim observava a princesa a dormir, com a cabeça no vidro, olhos fechados mas não apertados, mantendo aquela suavidade, o sorriso mesmo assim permanecia na face, a pele aparentava estar mais macia do que nunca. Ela que naquele dia se juntou ao Danny e ao Tim, e os três partilharam as alegrias daquele passeio inesquecível… O Tim estava nas nuvens, feliz, feliz, feliz… e enquanto olhava para a bela adormecida, que estava sentada mesmo ao seu lado, estava também atento a tudo o que estava ao seu redor e verificou que naquele preciso momento era a única pessoa acordada com excepção do condutor do autocarro.
Eram vinte e uma hora, deviam estar a menos de duas horas de chegar a casa, o autocarro estava calmamente circulando a uns noventa quilómetros por hora, no céu brilhavam as estrelas e ao seu lado estava a lua, e foi num momento irreflectido e deixando-se levar por algo que não se sabe bem o quê, aproximou-se do vidro e, derramando uma lágrima de felicidade, ao mesmo tempo acompanhada de ternura e emoção, foi por breves segundos, mas naquele instante…
Soltou-se um beijo!

PS: Ainda hoje, a agora senhora professora, mãe de uma criança linda e casada com um amigo de Tim diz  guardar aquela cassete, bem guardadinha, no seu Baú de recordações! 


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Joy e a sua família.




Hoje vou falar-vos um pouco sobre a família do Joy.

Talvez seja esta herança familiar uma das razões pelas quais ele tem estes comportamentos aventureiros.

O pai e a mãe do Joy são um casal que aparentemente tem uma vida normal. Joel, o pai do Joy, conquistou Madalena quando ela ainda tinha 18 anos, era novinha e protegida pela família, muito bonita, com olhos azuis, cabelo loirinho, um sorriso tímido mas ao mesmo tempo muito penetrante, capaz de hipnotizar e fechar um girassol antes do pôr-do-sol.

Joel era um galã, com olhos verdes, cara fininha, um piscar de olho arrebatador e um olhar confiante. Tinha uma micro empresa de construção civil, um Toyota Celica, para passear ao domingo, colocava sempre brilhantina no cabelo e quando tirava o maço de cigarros do bolso da camisa vinham agarradas 4 ou 5 notas de 10 contos.

Estava ali um marido de sucesso, Madalena era invejada pelas amigas, Joel era o homem perfeito!

Desse casamento surgiu o Joy! Fazendo bem as contas, talvez tenha surgido uns tempos antes do matrimónio. Muito mais tarde, nasceu a pequenita Joana, já o Joy era adolescente.

Com a crise que se instalou na construção em Portugal, Joel teve de ir fazer obras para Espanha, davam dinheiro, mas era desgastante, só regressava a casa ao sábado à noite e partia à segunda-feira de madrugada, às vezes partia até ao domingo. Coitado!!!

Madalena tratava da família, era doméstica, ou seja, tinha a obrigação de manter os filhos bem educados, bonitinhos, fortes e saudáveis. Dava carinho ao marido quando ele estava em casa, saciavam os apetites sexuais e iam às compras e jantar fora! Nada de férias porque havia trabalho árduo no país vizinho.

Numa tarde de um domingo qualquer, estava o Joy, o Tim e o Baltazar a tomar café numa pastelaria lá na Vila onde moravam, em amena cavaqueira. Na altura o Baltazar era o bem-sucedido do grupo. Chefe de 30 profissionais, 2 dos quais engenheiros e muito mais velhos que ele, um orgulho! O Baltazar estava no topo da carreira para um profissional da sua idade, logo todas as conversas tinham de ser lideradas por ele. O Joy não estava a gostar de ficar para trás, não era o centro das atenções e então, para reverter a situação, mostrou as fotografias do carro novo que uma senhora de uma Vila próxima tinha e disse:
- Este vai ser o meu próximo carro, pois já elaborei uma estratégia em conjunto com o meu pai para convencer a minha madrinha a oferecer-me este carro.

Responde de imediato o Tim:
- Mas é um Audi TT, e essa não é a tia Elvira, não é a tua madrinha!!!!!!
O Baltazar sorriu ao ver a cara de inocência e admiração do Tim, ele sabia mais alguma coisa, e disse, gozando com o Tim e admirando o Joy:

- Já não te chega cravares essa roupa de marca que vestes à amante do teu pai, e agora queres o carro dela também? Que vais dizer à tua mãe se apareceres com esse carro em casa?
O Joy responde de primeira:
- Digo-lhe que mo emprestaram, invento que foi uma rapariga que gosta muito de mim…

- Tá bem! Coitada, ela também acredita em todas as mentiras do teu pai, só será mais uma…

O Tim estava perplexo com aquele diálogo, a sua mente estava completamente fora do assunto, e pergunta meio a gaguejar:

- Mas o teu pai tem uma amante? E tu sabes? E ela dá-te prendas? E como é que a tua mãe não sabe? E que pensa a amante do teu pai de tudo isso? Não se importa? E quando está com ela, já que ele só regressa ao sábado de Espanha e vai embora domingo à noite?

- Calma Tim, o Joy já te conta tudo… - Acalmava Baltazar com estas palavras, o pobre e inocente do Tim, ao mesmo tempo se ria de mais uma história maquiavélica que envolvia Joy.

Então Joy explicou tudo:

-O meu pai regressa de Espanha às sextas, viaja de volta para lá só à segunda, e tem semanas que nem vai ao país vizinho!

O Baltazar apodera-se então da conversa e, demonstrando que sabe de tudo, começa a contar ele a história, não fosse o Joy omitir algumas coisas.

- O pai dele tem duas mulheres, a mãe do Joy e uma cota com massa ali em Amarante, e mais, o Joel diz-se viúvo, que vive em casa dos sogros, daí não poder passear com a amante pela rua, nem traze-la até aqui à nossa terra. Para credibilizar tudo isto perante a cota, de vez em quando o Joel leva o Joy, e este artista além de confirmar a viuvez do pai, também aproveita para sacar umas prendas da nova “madrinha”!

O Tim abanava a cabeça em pânico com esta história, mas o Baltazar continuava, com a frieza que o caracterizava, contando a história, pensando que estava a abrir os olhos a Tim e ao mesmo tempo a humilhar Joy.

- A Sra. Madalena engole a história de Espanha, a cota vai na cantiga do Joel e do Joy, é bem natural que ainda vejamos o Joy a passear-se de Audi TT.

Mas, como o Joy ainda não estava satisfeito com a história, acrescentou um ponto importante para adquirir aquela viatura que iria deslumbrar todas as mulheres que lhe passassem à frente:

- Para a semana vamos jantar a casa dela e vamos levar a minha irmã, tal como tu disseste, para convencer a cota de que necessito da viatura. Direi que necessito do carro para levar e trazer a pequenina da creche.


PS: Esta história é baseada em factos reais, pode é ser um outro Joy!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Lemas...

- Joy, curte a vida sem limites...

- Baltazar, não desiste, apenas efectua recuos estratégicos...

- Tim, todas as pessoas são boas, até que, Baltazar lhe mostre o contrário...